"Ler, quase como respirar, é nossa função essencial."  (Alberto Manguel, 1997).

          Entre citações, trechos literários de Bartolomeu Campos de Queirós, Marina Colasanti e Manoel de Barros, deu-se o encontro da Semana Pedagógica com os mediadores de leitura neste último dia 14 de fevereiro, em Parnamirim.



          Na companhia de muitos 'navegantes', a Profª Ms Miriam Dantas de Araújo, com a simpatia e conhecimento sobre o tema que lhe são peculiares, nomeou o encontro com o título "Rota de Navegação para o Rio que flui para o Mar da Leitura".   E assim foi...

          Para o que almejamos em 2013 - a construção do Plano Municipal de Leitura Literária nas Escolas (PMLLE) - nosso primeiro passo, segundo a agulha imantada que essa 'bússola' aponta é a organização do comitê gestor e um cronograma de reuniões a ser observado com estudo da legislação disponível, a saber a Lei Municipal 1.563/11 e a Lei Federal 12.244/10.

Secretária Adjunta Marizete Amorim (à direita)  presente no encontro dos mediadores junto a  Profª Miriam  Dantas

          Os obstáculos, comuns a toda e qualquer rota, certamente aparecerão, mas Parnamirim prossegue na direção de construir uma política pública de leitura permanente.

          Se, também, por meio da literatura, o ser satisfaz suas necessidades, então, a abertura da Semana Pedagógica do município de Parnamirim, nestes últimos dias 07 e 08 de fevereiro, saciou a necessidade de arte e beleza em todos os professores presentes.

          Ainda no início, o aluno Kaliadson Silva, do 6º ano da Escola Municipal Augusto Severo passeou no passado - e levou muitos – na poesia “Vou me embora pro passado” de um dos grandes menestréis da poesia popular nordestina, Jessier Quirino.



          A Secretária de Educação e Cultura, Profª Vandilma, também citou, em seu discurso, versos de Mário Quintana para recepcionar o corpo docente.



          O professor Hamilton Werneck, palestrante do dia, disse que sentia-se em terras potiguares, como Manuel Bandeira, em sua autobiografia lírica "Vou me Embora pra Pasárgada" e elogiou os megabytes do aluno Kaliadson, que tem guardado, em sua memória, os mais de 200 versos da poesia matuta e ainda, em seu discurso, denunciou os poucos livros lidos pelo estudante brasileiro.



         No segundo dia do evento, o aluno Márcio Sérgio da Escola Municipal Eulina Augusta exigiu o que é seu de direito com a poesia de Pedro Bandeira "Mais Respeito, Eu Sou Criança".



         "Andarilhos do Coração" da obra "Torturas de um Coração ou em Boca Fechada não entra Mosquito" de Ariano Suassuna foi encenado, em forma de teatro de rua, pela da Cia Cênica de Ventura para deleite dos presentes.




         Ainda a literatura não está tão presente nas salas de aula quanto deveria, mas o projeto já comemora inserções como estas, que podem comprovar que o contato com o universo literário propicia a exploração de inúmeras possibilidades de educação no desenvolvimento social, emocional e cognitivo do ser.

Porém, a forma insaciável permanece: (Professoras Heloísa Camargos e Luciene Paiva)

          Próximo dia 7 de fevereiro de 2012, Parnamirim receberá o escritor e conferencista Hamilton Werneck durante a Semana Pedagógica.  Com mais de 26 títulos publicados, o projeto "Parnamirim, um rio que flui para o mar da leitura" alegra-se em compartilhar a opinião de Werneck sobre a leitura. De fato, o desenvolvimento do gosto pela literatura é um dos múltiplos desafios enfrentados pela escola atual, talvez o mais exigido e necessário na sociedade.




         "Não temos o costume de ler. Temos facilidade em ‘tirar leite’ dos jornais nas bancas. Lemos bilhetes e pedaços de texto aqui e acolá. Tal fato decorre de série de situações. Uma delas é o fato de o brasileiro ter saído do analfabetismo e ter chegado à televisão sem entrar nas bibliotecas. Entre os países do Cone Sul, o Brasil é o que apresenta estatística perversa em relação à leitura: maior percentual de analfabetos, maior preço médio para os livros e menor relação entre livrarias por cem mil habitantes. Não atingimos 2.500 em todo o Brasil.

          O mais grave em tudo isso e que precisa ser questionado pelas autoridades educacionais é que nós não formamos leitores, embora haja muitas crianças nas escolas. Qual é o erro? Exigir a leitura de autores clássicos muito distantes da realidade das crianças e que foram escritos há mais de cem anos! A criança acaba detestando a leitura e, quando sai da escola, não lê mais nada.

          Solução seria adotar a estratégia de muitos países que trabalham os clássicos da literatura moderna, distantes apenas uns 50 anos. E se tal medida necessitar de mudança de foco nos exames para as universidades, que seja feita em nome da formação de mais leitores.

          Ainda há escolas que destroçam a leitura. Indicar um livro e marcar a famosa ‘prova do livro’ é assassinar dentro da mente e do coração dos alunos o gosto de ler.

          Pior ainda quando se organiza uma questão de completa imbecilidade: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. Fernando Pessoa. Surge, então, a pergunta: “Lendo o pensamento acima e o nome do autor, assinale o dígrafo”! Mataram o texto de incomparável beleza!

          Para formar leitores que possam mudar os dados caóticos que ainda apresentamos, é necessário fazer com que os estudantes gostem de ler. Como consequência, eles lerão, no futuro, os clássicos de nossa literatura."


Fonte: http://odia.ig.com.br/portal/opiniao/hamilton-werneck-por-que-n%C3%A3o-temos-leitores-1.537304