O Eco dos Bosques

12:32:00Rio de Leitura

     Fonte: mobile.opovo.com.br, por Socorro Acioli, acessado em 26 de março de 2016.  

          Tenho o hábito de anotar nos meus livros a data e as circunstâncias da aquisição de cada um. Registro onde comprei, em qual cidade, qual livraria ou feira, quem indicou, quem me deu e em qual momento da minha vida ele chegou. Por causa dessa prática, posso afirmar que adquiri meu livro preferido do Umberto Eco em 1999. O livro chama-se "Seis passeios pelo bosque da ficção". 

         “Bosque é a metáfora para texto narrativo, não só para o texto do conto de fadas, mas qualquer texto narrativo.” Depois da devida explicação, Umberto Eco discorre sobre como a participação do leitor é determinante para a condução de um texto. A forma de ler, o tempo, a velocidade e a maneira de preencher as lacunas que o livro deixou para o leitor falam muito sobre a experiência de viver a literatura da forma mais profunda possível.

          Mais ou menos na mesma época, tomei conhecimento do resultado da pesquisa do Instituto Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa: apenas 8% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são capazes de se expressar e compreender um texto plenamente. Diante de um número tão impactante, mergulhar em uma análise teórica preparada para alunos da Universidade de Harvard parece uma utopia. Por que pensar a literatura com profundidade, investir tempo em teoria literária e suas relações com a filosofia, por exemplo, quando 92% da população do Brasil ainda carece da compreensão básica de textos e mensagens?

         A resposta passa pela responsabilidade de ser parte desses 8%. Eu e você, que lê esse texto agora, que chegou comigo até aqui acompanhando o meu pensamento e que está formulando suas ideias sobre o tema. A literatura é um dos caminhos mais prazerosos para transformar esse número. O acesso ao texto literário de qualidade pode construir as pontes entre os grupos definidos pelo Índice Nacional de Anafalbetismo (Inaf): Analfabeto, Rudimentar, Elementar, Intermediário e Proficiente.


          De maneiras distintas, os 8% que alcançaram o grupo dos Proficientes devem 
conduzir quem vem caminhando alguns passos atrás. Criar bibliotecas, grupos de leitura, ler para crianças, doar livros, escrever, editar e ilustrar, colaborar com a formação de professores, dar aulas com amor pela literatura, investir no incentivo à leitura são formas de reverter esse quadro preocupante.

          Umberto Eco tinha razão: toda narrativa é um bosque. Perder-se com alegria em suas veredas é um direito de todos.



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