Recesso Escolar: hora de guardar as rotinas e ler, livremente!

14:10:00Rio de Leitura



Aluna da Escola Municipal Antonio Basílio lê, em praça pública
          

          Estou de férias. Hora de guardar as rotinas e criar outras mais leves, animadas e imperfeitas. Isso! Férias é o momento das imperfeições, de agir ao sabor de um estalo e de acordar quando os olhos se cansam de estar fechados. Sem muitas regras ou horários, temos o direito de nos desconcentrar e agir realmente nas incertezas do puro prazer, mesmo que isso signifique fazer nada. Nada é um palco de maravilhosas orgias mentais.

          Estou em férias e só penso nas leituras que posso fazer. Ler é o meu descanso, meu devaneio, minha forma de limpar o cérebro. Este é o período das escolhas avulsas e despretensiosas. Não há um fim, o prazer está no meio ou nos meios. E disso minha estante está repleta. Muitos livros sem ler. Muitos livros guardados na esperança de um toque. É bom não saber o que escolher com tantas escolhas à frente. Em férias mexo em todos os meus livros. Todos têm histórias, marcas, importância. E fico embalada por qualquer leitura que me faça feliz.

          Em férias, estou com o cérebro aceso, atento e em expectativa: que mundos vai conhecer? Que cenas irá vivenciar? Que informações o encantarão e modificarão? Porque é isso: a leitura prazerosa acelera as conexões neurais e garante a contínua relação entre neurônios, pensamentos e emoções. Ou seja, a leitura é o exercício de adaptação cerebral e de transformação pessoal de qualquer sujeito. Aí, sem querer, eu me pergunto: o que aconteceu com esse cérebro do impresso ao virtual? Será que há a mesma funcionalidade/plasticidade quando relacionado com as letras, cores e imagens em ambiente virtual? Eu acredito que sim.

          Hoje, em férias, reconheço que os sujeitos sempre transitaram entre dois mundos: online e o offline. E ambos difíceis de se ligar, porque demandam do cérebro forças neuronais associativas muito intensas em pouco tempo. Entre nativos e imigrantes digitais, esta é a diferença. Daí ler e entender o significado da leitura serem atos tão problemáticos quanto os primeiros momentos em que se aprende a andar de bicicleta. Há desgoverno, desequilíbrio, estranhamento e várias quedas. É um processo de adaptação cerebral cuja realização gera mutações, por exemplo, nas atenções e ações dos hemisférios cerebrais. Andar de bicicleta e aprender a ler requerem ajustes profundos na natureza, no imaginário e no pensamento humano.

          Estou de férias e com o cérebro quase queimando. Ler é muito difícil porque requer operações mentais complexas e contínuas que, no processo evolutivo, não foram aprofundadas. E sem resolver esse problema viver-se-á para sempre essa Era da Ansiedade cujas emoções pessoais estão cada vez mais flutuantes e desconexas. O melhor dos mundos? O convívio com sujeitos equilibrados e com múltiplas habilidades corticais voltadas para o bem de todos e do meio ambiente. O pior dos mundos? Hoje!
Férias é um tempo conturbado e cheio de surpresas!

Por Claudia Nunes, professora

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