Marina Colasanti: 'Não perco tempo com leituras insignificantes'

07:41:00Rio de Leitura

Fonte: www.blogdogaleno.com.br, acessado em 03 de janeiro de 2017.

          Os livros ajudaram a pequena Marina Colasanti (Asmara, Eritreia, 1937) a esquecer que vivia sob o cerco da Segunda Guerra Mundial. Desde então, publicou mais de 60 obras para crianças e adultos. Antes, estudou Belas Artes no Rio de Janeiro. Foi jornalista do Jornal do Brasil. Traduziu Roland Barthes e Yasunari Kawabata para o português. Agora, acaba de receber na Feira Internacional do Livro de Guadalajara (México) o Prêmio Ibero-americano SM de Literatura Infantil e juvenil.

          Como teria sido a guerra para você sem os livros? 

          Totalmente sem graça. E sem exemplos de sobrevivências significativos. A literatura é construída em torno de conflitos ou perigos que ameaçam os personagens e que precisam ser superados. É o que acontece com Ulisses ou nos contos de fadas, com Peter Pan e os Três Mosqueteiros. É a mesma coisa para quem vive uma guerra. Como teria sido pobre e monótono crescer sob a Segunda Guerra Mundial alimentada apenas pelos slogans e as imposições do regime fascista.

          Considerando os seus diversos interesses, como faz para organizar suas leituras? 

          É bastante caótico. Adoro ler em aeroportos e nos voos. Posso ler de pé em uma livraria apenas para ter uma ideia do que o autor está falando ou abandonar um livro depois de poucas páginas. Fiz 80 anos de idade este ano, e o tempo se tornou algo extremamente valioso. Não posso perdê-lo com leituras insignificantes.

          Continua a acreditar em fadas?
          
          Nunca acreditei em fadas, tampouco trabalho com elas. Acredito em símbolos.

          Walt Disney está para a literatura infantil assim como uma marcha militar está para a música? 
  
          Boa frase! Mas uma marcha militar pode se aproximar da música e existem muitos toques militares na grande música clássica, bem como na ópera. Disney, ao contrário, troca o simbólico pelo óbvio, transforma contos milenares em musicais esvaziando-os de seu conteúdo. Sua única finalidade é de caráter mercantilista.

          O que acha que está sendo socialmente supervalorizado hoje em dia? 

          O desejo individual e o ego.

          Que tipo de tarefa você jamais aceitaria fazer?

          Qualquer uma que implicasse maltratar seres vivos. Ou em que eu tivesse de mentir.


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