Projeto Rio de Leitura recebe homenagem na Câmara de Vereadores de Parnamirim
14:26:00Rio de Leitura "'Infância', um dos meus poemas prediletos do autor mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902 — 1987), termina assim: “E eu não sabia que a minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé.”
Tal alegação aparentemente simplista e até (eu diria) meio que… pueril é, a meu ver, uma das constatações mais alucinantes da literatura brasileira: a vida que eu tenho é melhor do que a que eu imagino ser boa pra mim; ou, numa abordagem bíblica, a vida que tenho é o melhor que Deus pode me dar, de acordo com Seus termos.
O eu lírico (provavelmente um menino) está entre mangueiras, enquanto observa a trajetória cotidiana de cada um de seus parentes. O pai sai à cavalo. A mãe põe-se a costurar. Já seu irmão… dorme lá no canto. Ou será, na verdade, uma lembrança? A vida está quieta demais. Cadê?
Tudo está deveras pacato. O café feito. O pai ainda distante, ocupado. E os olhos e mente do menino cativos à narrativa de Daniel Defoe.
Não seria aquela história melhor que a sua própria história?
Não seria aquela ilha, ou aquele enredo, melhores que a sua mãe a costurar ou seu irmão a roncar? Ilhas parecem mais legais e interessantes que algumas casas no campo.
Mas não!
Como a fantástica história do náufrago de Defoe e suas aventuras com o indígena mais gente boa da Ficção seriam de algum modo mais interessantes que a vida pacata na qual o menino se encontra?
Temos a fortuita tendência de optar pela amplitude da Ficção, do que pela veracidade da vida que Deus nos dá.
A nossa vida. A nossa história. A nossa família. Quem nós somos.
Nossa realidade é infinitamente superior a toda Ficção que possamos consumir para tentar escapar do cotidiano. A chave é a Gratidão.
Nesse sentido, olho pra mim mesmo (e ao meu redor), agradeço aos Céus e afirmo:
Nosso dia a dia, nossos mediadores de leitura. O nosso rio. O rio com suas vitórias e dificuldades. O dia a dia das bibliotecas e cada um dos seus recantos, e em cada canto, um novo e sedutor canto… um feliz encanto (Me perdoem a rima que parece pobre: ela não é!). A nossa cidade Parnamirim.
Paremos de analisar a realidade por nossos termos e vivamos com Gratidão o enredo que Ele teceu pra nós!
A vida que Deus te dá é melhor que a vida que você dá a si mesmo. Não há santidade em querer viver na Ficção. Basta ter certeza e viver o script do Eterno pra você." (Texto adaptado do menino leitor Daniel Henriques que, generosamente, permitiu, as pequenas adaptações).
E tao belo quando tudo isso é a disponibilidade do livro de Drummond está a apenas um esticar de braços de cada menino e menina da cidade de Parnamirim. É bonito ver que o Projeto Rio de Leitura faz o tão misterioso ofício do poeta de José de Castro e de inúmeros outros que nos visitaram durante todos esses anos parecer o mais banal dos atos. Poucos tem/tiveram tal privilégio. Mas não o é. É a entrega da palavra ao outro para que ela germine. É a possibilidade de um possuir um bilhete de trem, um calendário encantado, um arco da aliança em um céu magnífico-azul, cheirinhos de cajus, um barquinho de navegação, uma história bonita como a de Robinson Crusoé: itens imprescindíveis à criança/adolescente/jovem que não tem acesso à verdade e à beleza. E ela assim o fará. No tempo certo, colheremos. O livro, aqui está. O mediador, logo ali. A biblioteca, sempre aberta. Dou-me por feliz, então.
P.S.: Por mais que se diga que poesia não faz cerimônia, ao final, convidamos os navegantes mediadores de leitura, para, em uníssono, repetirmos a máxima de Adélia Prado, que nos acompanha desde o ano de 2010. E, assim, nos damos por felizes, sabendo que estamos a cumprir nossa missão!
1 comentários
Foi uma honra participar desta linda solenidade representado meus colegas professores mediadores. Grata a Vereadora Vandilma Oliveira pela iniciativa e Angélica Vitalino, um anjo literário em minha vida.O projeto Rio de Leitura significa muito em minha trajetória profissional, Fui muito feliz, sempre grata, sempre Rio. Amo até o infinito ❤
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