"Há algo de mágico no nome que carregamos, desde a hora que os pais o escolhem, seja por uma história ou afetividade, seja por modismo, atribuição a um santo ou parente: o certo é que o nome diz muito sobre a gente. 

          Quando minha mãe escolheu meu nome, entregou-me ao santo de que era devota, São Francisco, mas não de Assis, de Paula, eremita, nascido em Nápoles, e que quando criança fora acometido por uma doença, e por meio da fé o entregaram a São Francisco de Assis, usando por certo tempo a roupa franciscana, vindo assim, ser curado. Apesar do nome composto, eu era conhecida apenas por Paula, Paulinha, filha de Cícera de Nico, outros nomes que carregam histórias, memórias, fé e representações oníricas e afetuosas dentro de mim. 

       Como peso ao nome, meu sobrenome Belmino, mal era pronunciado e eu carregava nele um ar de tristeza pela ausência de um pai presente, na dureza da falta de afeto que aquele nome se produzia em mim, e eu na minha fase de adolescência cheia de conflitos mal sabia entender. Foi em meio a muitos traumas, dores e lágrimas que consegui amadurecer e entender a força daquele sobrenome.

          Eu poeta, chorando nos versos palavras de melancolia, saudade, desafetos, amores desgastados e platônicos, escondia meu sobrenome, como quem quisesse esconder a vida áspera que viva no semiárido. Foi só quando o tempo amadureceu meu espirito e a poesia inundou minha alma, que a imaginação deu significado e o desejo de estampar meu nome “Paula Belmino” nas folhas de um caderno-diário e, mais tarde, nas páginas de um livro sonhado. Escrito e rubricado de significâncias e narrativas que impregnados em cada letra diziam muito de quem eu era, de quem eu ansiava ser: Uma estrela da TV, uma cantora de sucesso, uma fada ou princesa na torre esperando o príncipe encantado, ou a menina brincando de pés descalços na areia multicor, tal como as que coloriam meu nome.

          O certo é, eu agora moça-mulher, entendi a força de um nome, que só ressurgiu do perdão ao desamor do meu pai, ao entendimento do amor supremo com que minha mãe me amava e por mim dava o tudo no pouco que tinha, o entrelaço de minha história ao do meu avô que contava histórias, e à avó que não sabia escrever, e a quem pude ajudar lendo ou escrevendo uma carta aos parentes. Era meu nome que brilhava feito os das estrelas do cinema, não na calçada da fama, mas nos registros da pequena biblioteca de minha cidade, no amor pela leitura e, quase que de repente, num certificado de nível superior, e notoriamente nos autógrafos de livros autorais. Meu nome e sobrenome, agora cantado na voz de crianças que agora liam os escritos do meu âmago e que consagraram para si meu nome em afeto e exemplo, agora refletindo também em nome de Biblioteca Escolar. 

          Só assim, após tantos dissabores e conflitos compreendi, mais que o nome escrito no registro civil de nascimento, ou cravado na história, fazia jus ser semente de boas palavras, como árvore a florescer bons frutos. Um nome que abre janelas e portas não pelo poder da assinatura, mas por trazer em si mesmo a força de promover o outro por meio do exemplo e da educação.

          Meu nome, agora inaugurado na Biblioteca da Escola Municipal Desembargador Silvino Bezerra Neto, em Parnamirim-RN, emoldura na parede, mais que um presente, um marco, anseia escrever-se no coração dos leitores de todos tempos. Para ser sagração, em saber que cada um carrega no nome, no amor aos livros, a transformação de pessoas por meio da esperança."

Paula Belmino é natural de Lagoa Nova, bem pequena encantou-se pelo mundo das histórias e cordel que ouvia do seu avô.  Filha de professora, se tornou também educadora, formada em Pedagogia pela UFRN, atua como mediadora, contadora de história e incentiva à leitura.  Hoje, dia 11 de novembro de 2022, foi inaugurada a Biblioteca Escolar Paula Belmino na Escola Municipal Silvino Bezerra, em Parnamirim/RN.